10/01/2018

Opinião | Menina Boa, Menina Má | Ali Land

Quando Annie, 15 anos, entrega a sua mãe à polícia espera um novo começo de vida — mas será que podemos realmente escapar ao nosso passado? A mãe de Annie é uma assassina em série. Annie ama a sua mãe, mas a única maneira que tem de a fazer parar é entregá-la à polícia. Com uma nova família de acolhimento e um novo nome — Milly —, espera um novo começo. Agora pode ser quem quer. Mas, com o julgamento da mãe à porta, os segredos do passado de Milly não vão deixá-la dormir… Quando a tensão sobe, Milly vai ter de decidir: será uma menina boa? Ou uma menina má? Porque a mãe de Milly é uma assassina em série. E ela é sangue do seu sangue.

(pode conter spoilers... ou não)
Este livro... Li-o em dois dias! Foi assim uma coisa que me "bateu" e deixou-me um bocado abismada. Quem me conhece e aos meus gostos, sabe que este género de livro não é bem a minha praia e, geralmente, são sempre os livros que levo mais tempo a ler. Este não. Este devorei e lia outra vez sem qualquer problema (isso se não tivesse outros "milhentos" de livros na fila para ler).
Ali Land lança o seu primeiro livro de uma forma absolutamente *deliciosa*. Escrita simples e rápida, sem ser extensivamente longa e aborrecida, que nos leva a ler e a devorar páginas sem darmos por isso. Aborda um tema muito forte e, na minha perspectiva, assustador, tendo em conta que se trata de uma miúda que se sente na obrigação de travar a morbidez e malvadez da própria mãe.
Mesmo sabendo que o tema assim o exige, não conseguimos deixar de nos sentir chocados à medida que vamos tendo conhecimento de tudo o que Annie/Milly passou e ainda está a passar por conta da mãe.
Apesar de tudo acontecer, exactamente, por causa da mãe de Annie, temos de colocar esta menina como o centro do livro todo. Tendo em conta que ainda é uma jovem adolescente, seria de esperar que não fosse uma personagem muito complexa e de difícil entendimento. Se numa altura podemos perceber que Annie está em constante luta com o seu interior e com as memórias da mãe, em outras alturas conseguimos vislumbrar o que nela está intrinsecamente ligado à mãe, quase como se fosse algo passado geneticamente). Era nessas alturas em que mais recava pelo que ela pudesse fazer.
É difícil perceber de imediato como é que esta jovem é. Se de início ficamos surpreendidos pela ousadia e pela coragem que ela teve de denunciar a própria mãe, no decorrer da história conseguimos perceber que, de facto, esta jovem de apenas 15 anos pode ser tudo menos uma criança equilibrada. A vivência que teve com a mãe, a brutalidade a que foi submetida durante tantos anos e a própria genética teriam de estar algures no interior dela, pronto a emergir e era o que moldava a forma como ela lidava com as outras pessoas, quer fossem bem intencionadas ou não.
Gosto do facto de Ali Land não ter exagerado nas descrições dos crimes, até porque a mãe de Annie era tudo menos branda com as crianças que maltratava e matava. Acho que foi uma boa opção da escritora até porque, como já disse, o tema e a forma como tudo se passa durante o livro, já choca o quanto basta. Foram muitas as vezes em que dei por de respiração suspensa com receio de como é que ela ia reagir a uma ou outra situação e isso é deveras torturante. 
Como filha, Annie vê-se acolhida por uma família que tomou nas suas mãos a tarefa de a ajudar a ser novamente uma adolescente, ainda que dependesse dela o testemunho, em tribunal, que ditaria a sentença da mãe. Nessa família, Annie, ou melhor, Milly, acalenta a esperança de um dia eles quererem ficar para sempre com ela e que, por uma vez na vida, ela tenha o seu lugar no mundo. Um lugar seguro e estável, como tantas outras meninas da idade dela têm. É um bocadinho triste a forma como Milly agarra-se aos "pais" temporários, sabendo que de uma hora para a outra tudo se poderá resolver e ela ter de se ir embora de vez, quando na realidade o que ela queria era ficar ali com eles que são os únicos conhecedores da realidade dela. Por muitas vezes, senti-me triste e impotente em relação a Milly e à situação dela. Mas, Milly é uma menina com uma força interior enorme e que não se deixava ir abaixo com facilidade.

Levei muito tempo a escrever esta opinião justamente porque fiquei como que em "ressaca literária" depois de o acabar e achei que não iria conseguir escrever uma opinião à altura.
Acho que todos perceberam que este livro vale a pena de ser lido e que Ali Land tem de ser seguida com atenção.

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